segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Regeneração

   Hoje me dói muito no coração ver pessoas que se dizem filhos de Deus e claramente não são. São fariseus, pessoas que professam uma fé verdadeira, genuína, segundo a sã doutrina, mas que não tem uma vida regenerada pela palavra. Mas o que é regeneração? Como saber se alguém é ou não convertido? É correto fazer essa distinção entre quem é e quem não é convertido? São perguntas como esta que fazem valer a pena ler este post e, pela graça do Senhor Jesus, encontrar o caminho da verdade.

- O que é regeneração?

   A regeneração é um processo miraculoso onde Deus, pela atuação do seu Espírito Santo faz de um morto espiritual em um vivo em Cristo (1 Pe 1:23 Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre). Nas palavras de Paul Washer, que com uma maravilhosa coerência e felicidade fez se notar a seguinte verdade. A regeneração é um ato divino tão ou mais poderoso que o ato da criação. Na criação, Deus fez as coisas existirem do nada. Mas na conversão de uma criatura depravada, Deus cria um novo ser a partir de um ser desordenado, desorganizado, manchado pelo caos do seu pecado. Percebe que aqui Deus faz uma obra excepcional, maravilhosa, para salvar um ser corrompido de um mundo corrompido que tende a sua destruição final.
   João 3 nomina a regeneração como um “novo nascimento”. Na regeneração o homem que estava morto nos seus delitos e pecados é, pelo poder de Deus, feito vivo novamente. (Ef 2:1 Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados). Jesus aponta o novo nascimento como necessário para a vida eterna (Jo 3:3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus). Não pode entrar no reino de Deus quem não nascer de novo. Fica, a meu ver, evidente que ninguém nasce convertido, caso contrário não seria novo nascimento, mas um nascimento duplo (?). Não seja ridículo.

- Como saber se alguém é ou não convertido?

   Antes é importante considerar um lamentável fato. Nem todos que se dizem convertidos realmente são (Mt 7:21-23 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.). É triste a situação dos CONVENCIDOS. Por nascerem em um lar cristão, por irem sempre aos cultos, e até mesmo por saberem quem é Jesus esses indivíduos se convencem piamente que são convertidos. Mas existem neles algumas falhas facilmente notadas.
   O convencido, muitas vezes, acha que sempre foi convertido ( se assemelha a situação dos fariseus que se intitulavam como verdadeiros servos de Deus. Jo 9:41 Respondeu-lhes Jesus: Se fosseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Nós vemos, permanece o vosso pecado). Acredita, por desconhecer a necessidade de nascer de novo, que sempre, desde que se entende por gente, foi regenerado, criando assim uma deficiência no próprio conceito do que seja a regeneração. Tal indivíduo precisa, inclusive, de uma regeneração no bom senso (!).
   O individuo falsamente regenerado muitas vezes tem também o hábito de se orgulhar de seus feitos pecaminosos. Ele não sente a dor, a tristeza que o pecado gera no coração de quem tem o Espírito Santo de Deus.
   Ele pode também ter o costume de mudar seu jeito, de camuflar-se segundo o meio que vive. Se estiver na igreja e perto dos irmãos regenerados, ele é um “santo”. Longe deles, e no meio secular, ele, não raramente, até se sente melhor, mais “livre” para expor sua personalidade descompromissada com Deus.
   Mas ainda não entramos no mérito da questão. Como então saber se o indivíduo é convertido ou convencido?
   Não é preciso muito para saber que uma pessoa declaradamente mundana não tem compromisso com o Senhor. Mas para as pessoas que se declaram crentes em Deus o primeiro e indispensável critério é conhecer a fé que essa pessoa professa. Essa pessoa deve professar uma fé coerente com a sã doutrina nos seus princípios básicos. Existem divergências doutrinárias, é claro, mas alguns pontos não podem ser divergentes, pois comprometem totalmente a idéia do Deus que se serve. São inegociáveis, por exemplo, a doutrina da Trindade, a plena divindade e humanidade de Cristo, a personalidade do Espírito, os atributos clássicos de Deus – imutabilidade, onipotência, onipresença e onisciência, etc. – a queda e o estado de perdição e pecado no qual se encontra toda a raça humana, a morte sacrificial e expiatória de Cristo e a salvação pela graça mediante a fé no Salvador, a sua ressurreição literal e física de entre os mortos, sua segunda vinda, o céu e o inferno como realidades pós-morte e a autoridade e infalibilidade das escrituras. (Augustus Nicodemus Lopez; O Tempora, O Mores; artigo “Eu também mudei” ).
   Com uma profissão de fé coerente e fiel à Palavra, resta saber se ela reconhece que se converteu algum dia, mesmo que não consiga precisamente se lembrar da data. É importante que a pessoa reconheça que foi salva por Cristo, mesmo que tenha sido quando ela ainda era criança, suficientemente madura para “aceitar” Jesus, reconhecendo-o como Senhor e Salvador de sua vida (não estou falando necessariamente do “apelo” para aceitar Jesus).

   Por fim, resta saber se ela leva uma vida coerente com a sua profissão de fé. Se a pessoa odeia o pecado, se se arrepende constantemente dos seus pecados e luta para vencê-los diariamente, constantemente suplicando o perdão de Deus. O convertido também peca, mas ele odeia o pecado e luta contra ele por odiá-lo e por amor a Deus (que é o mais importante mandamento). Quanto mais grave é seu pecado, mais doloroso esse pecado é para o crente genuinamente convertido. Sua depravação o faz lamentar-se e humildemente reconhecer a soberana graça do Senhor em salva-lo.
   Portanto a conversão é acompanhada de arrependimento de uma vida de pecados e inimizade (ainda que não expressa) com Deus. Importante ressaltar aqui a preciosa lição de M. Lutero sobre o arrependimento. Ele nos ensina que o arrependimento é fruto de três momentos: o de conhecimento (cognitivo), o sentimental e o de vontade (ou volitivo). O processo de conhecimento é fundamental pois por conhecermos a vontade do Senhor que sabemos quando cometemos o pecado. No momento do conhecimento nós estamos aptos a discernir qual é nosso pecado. Reconhecemos que erramos, pois temos o conhecimento do pecado. Na faze chamada de sentimental é onde nós lamentamos o pecado. Esse momento não é mecânico. Nós não decidimos sentir a tristeza do pecado como decidimos conhecer o que é pecado através do estudo das sagradas letras. Lamentar o pecado é um momento único do convertido. Acredito que a cauterização ataca esse momento, pois o indivíduo não consegue sentir o quão nojento é seu pecado e não consegue se arrepender plenamente. O terceiro momento do arrependimento é o momento volitivo. Aqui é onde o indivíduo que conhece o pecado, lamenta por tê-lo cometido, decide também não cometer nunca mais o pecado. Isso não significa que ele não se arrependeu se cometer o pecado posteriormente. Eu posso, com sinceridade, decidir conquistar uma menina, ou decidir fazer o gol. Não necessariamente eu tenho que conseguir para que a minha vontade inicial tenha se consumado. A decisão tem que ser sincera, porém ela não necessariamente exclui o pecado da sua vida. Quando alguém se converte, esse alguém tem a decisão no seu coração de nunca mais pecar, mas sabemos que ele, infelizmente, pecará.
   Concluímos então que o indivíduo convertido tem uma profissão de fé em conformidade com a sã doutrina, reconhece sua conversão (com méritos a Cristo) e vive uma vida de acordo com a fé que professa (Fp 1:27 Somente portai-vos, dum modo digno do evangelho de Cristo...), se arrependendo do pecado e lutando contra ele e produzindo frutos dignos de arrependimento.
   Um ponto importante na distinção de quem é convertido e quem não é convertido é o fato do convertido apresentar mudança. A mudança que ele apresenta nem sempre é instantânea, mas ele muda para melhor, pois o Espírito Santo, pelo conhecimento da Palavra que o indivíduo tem, transforma a sua vida. Se alguém se diz convertido mas nunca melhora, nunca conserta seus defeitos, essa pessoa precisa rever se é ou não convertida. Importante ressaltar a lição de que depois do novo nascimento o indivíduo não se torna um ser perfeito e regenerado em todas as áreas de sua nova vida. Ele agora é vivo, mais viverá um processo constante de restauração, como nos ensina Fp 1:6 tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus.
  
- É correto fazer essa distinção entre quem é e quem não é convertido?
   Na verdade essa pergunta pode se confundir com a seguinte: “É correto julgar?”. Para dar seqüência a esse tópico recomendo que leia o artigo “Julgar ou Não Julgar” (clique no link e leia antes de continuar) para não pensar que meus posicionamentos são arrogantes, imprecisos e até dissonantes da verdade. Portanto o que farei nesse tópico não é responder, necessariamente, essa pergunta, mas, convicto de que, respaldado nas escrituras, a resposta é um sonoro SIM, fazer algumas ressalvas importantes quanto aos critérios para distinguir.
   Primeiramente é importante deixar claro que dizer que uma pessoa não é convertida hoje não implica em sentenciar tal pessoa para o inferno. É um reconhecimento que tem incentivo na Palavra (1 Jo 4:1 Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.). Então não confunda distinguir uma pessoa como não convertida com dizer se ela vai ou não para o céu, mesmo porque ela pode se arrepender e viver uma vida em juízo com Deus.
   Outra dificuldade em fazer a distinção entre quem é e quem não é convertido reside no fato de que nem sempre temos convivência com todos os que se dizem regenerados. Um julgamento aqui seria injusto, sem critérios. Porém, por uma profissão de fé incoerente podemos afirmar categoricamente que uma pessoa não é convertida, mesmo que ela seja a mais piedosa pessoa que se conheça. Mas uma vez que a pessoa professa uma fé verdadeira, não podemos conhecer o interior da pessoa se esse não se manifestar através de suas atitudes e palavras (o que geralmente é impossível sem convivência).
   Então porque fazer a distinção?
   Excelente questão. Seria apenas para exaltar os que são convertidos? Para humilhar os que não são? Para excluí-los dos trabalhos da igreja? De maneira alguma!
   A importância de se distinguir quem é convertido ou não é óbvia em longo prazo. O não convertido tende a se sujar na lama do pecado e não querer se limpar. Ele, quando não professa uma fé coerente com a bíblia sagrada, é um câncer no corpo de Cristo, pois dissemina doutrinas destrutivas, levando muitos a se desviarem do caminho da verdade (Rm 1:32 os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam). Além disso, esse indivíduo mesmo permanece nas trevas sem reconhecer que está e ele mesmo se destrói. Distingui-lo como não convertido é tão importante para a igreja como para ele mesmo (2 Pe 2:1 Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição). É uma maneira amorosa de incentivá-lo a se converter. A distinção deve vir acompanhada de um desejo de evangelização ao não convertido.
   O não convertido também tem a revoltante mania de dar um péssimo testemunho da verdade regeneradora. Fato que, por levar a bandeira de Cristo, prejudica muito a vida dos novos na fé e da visão dos ímpios com relação à igreja (Rm 2:24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito). Eles trazem descrédito para a igreja local e desmotivam muitos pagãos a reconhecer a glória do Senhor sobre os filhos de Deus. A solução então é distinguir os não convertidos e, novamente motivá-los a se converterem genuinamente.
   Por fim talvez o mais importante motivo para a distinção é que é um mandamento do Senhor. (1 Jo 4:1 Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo). Não se deve ter um não convertido participando dos trabalhos da igreja, com funções delimitadas pelo Senhor, como presbíteros, diáconos, enfim, estes não convertidos não fazem parte do corpo de Cristo. Isso não significa excluí-los da igreja (instituição), mas apenas dos “cargos” que a Palavra apresenta.
  
- Conclusão

   Espero que com esse estudo você aprenda o que é a regeneração, como a importância de distinguir os regenerados e os não, bem como a maneira correta de fazer e de não fazer essa diferenciação. Se você não é um convertido e, com esse artigo conseguiu perceber isso, não se conforme com sua presente situação. Não é uma vergonha reconhecer que ainda não é regenerado. Vergonhoso é permanecer na situação pecaminosa sem procurar o novo nascimento. Procure alguém para lhe explicar totalmente o que é o plano de salvação e ore sinceramente para Deus ter misericórdia e habitar em seu coração. É uma honra ser novo na fé. É poder começar uma nova história com alguém que o ajudará. Com certeza todos que estão ao seu redor ficarão contentes e você vai poder experimentar o poder de Deus te concertando e a paz que excede todo entendimento será presente em sua vida para sempre. Deus te abençoe! Graça e Paz.

Sola Fide

Sola Gratia

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