segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Existe diferença entre pecadinho e pecadão?


   Hoje em dia é difundida uma resposta generalizada para essa pergunta: NÃO, não existe. Mas o presente post visa fazer uma análise dessa asseveração e suas implicações.
   Primeiramente, precisamos de um texto para basear nossa meditação. Sugiro Ezequiel 18:4
Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.
   Olha ae. Deus não faz distinção entre pecados. Simplismente a alma que pecar, essa morrerá. Não tão rápido assim!
   Voltaremos nesse texto posteriormente. Por agora, para os que defendem que não existe diferença entre pecados, eu lhes apresento alguns textos:

1 Samuel 2:25a “Se o homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas, se um homem pecar contra Deus, quem intercederá por ele?”
Provérbios 6:16-19 “Há seis coisas que Jeová aborrece; Sim, há sete que a sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, E mãos que derramam sangue inocente; Coração que maquina projetos iníquos, Pés que se apressam a correr para o mal; Testemunha falsa que profere mentiras, E o que semeia discórdia entre seus irmãos.”
1 João 5:16-17 “Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que não é para morte, pedirá, e Deus lhe dará a vida para aqueles que não pecam para morte. Há pecado que é para morte, por este não digo que alguém rogue.Toda a injustiça é pecado, e há pecado que não é para morte.”

   Talvez você, leitor, tenha dúvidas sobre alguma coisa levantada por estes assuntos, mas não vou, com este post, entrar no mérito. Só quero que perceba que os textos mostram claramente uma distinção entre pecados. Existem mais textos, mas considero estes suficientes. Então, para os que apressadamente disseram não à pergunta feita no título dessa postagem, atentem-se para uma suposta “contradição”. Se não existe, porque Deus faz a distinção? E se ele faz distinção, porque ele generaliza como se não houvesse tal em Ezequiel?
   Para solucionar tal questão é preciso analisarmos lógicamente a questão do pecado. Existe diferença entre dar um soco em uma pessoa e matar essa mesma? Claro que sim. E creio que todo mundo sabe que assassinar é pecado tanto como agredir, mas não na mesma intensidade. Huuum... Mas então, diria alguém, a diferença está na consequência. Agora faço uma pausa para apresentar duas possíveis interpretações do conceito de pecado.

1 Esse primeiro conceito separa a consequência do pecado. O pecado é igual, mas a consequência é que é diferente. Assim o pecado é todo ato/sentimento contrário à vontade de Deus. Não se discute a consequência aqui, mas sim se é pecado ou não.

2 Para essa interpretação o pecado é um ato/sentimento contrário à vontade de Deus, com uma consequência arraigada. Veja que nesse conceito não se pode desprender o pecado com sua consequência.

Qual destas duas interpretações é a correta?

   Bem, para ambas interpretações é comum pensar que o pecado tem consequências. Mas está óbvio a diferença entre elas. Uma parece não se importar se a consequência é grave ou se é branda. Para a outra isso será de extrema importância.
   Talvez você não tenha notado ainda, mas perceba que a interpretação 1 endossa Ezequiel 18:4, pois não importa a consequência, sendo que todo aquele que pecar, morrerá. Não importa qual pecado, contando que seja pecado. Já a interpretação 2 endossa os textos que fazem distinção entre pecados. Porque essa diferença? Simples. A primeira interpretação não exclui a segunda. Ela apenas trata de uma perspectiva diferente.
   Veja: Todo pecado é suficiente para condenar a pessoa a um eterno sofrimento, pois é um atentado contra um ser santo. Em outras palavras, em consequências eternas e salvação, todos os pecados são iguais. Eles tem a capacidade de condenar eternamente o pecador.
   Por outro lado, é certo que a gravidade do pecado se faz visível na consequência, e não se pode excluir tal, pois existe notória diferença entre eles. A própria lei que Deus deu aos homens no êxodo, punia diferentemente os diversos tipos de pecado. A própria lei, em questão penal, trata os crimes (pecados) de forma diferente, imputando penas mais severas aos delitos mais ofensivos. A consequência incorpora o pecado. Não há no que se falar em matar, sem que exista o morto. Não há no que se falar em roubar, sem o objeto para apropriar-se. Separar a consequência do ato é desfigurar o ato. E o raciocínio vale até mesmo para a “tentativa”. Se a consequência não importa, não existe o pecado de matar, mas simplismente o pecado. Mas então eu vou intentar fazer o que, se o próprio conceito específico de pecado (no caso, matar) está desfigurado? Vou tentar alcancar qual consequência? Portanto é importantíssima a consequência para definição do pecado.
   E porque definir? Primeiro porque as consequências do pecado podem ou não serem punidas ainda nessa terra. Em questões de salvação, o sangue de Jesus é suficiente para nos purificar de todo pecado. Mas não é difícil imaginar que se um pastor mata um irmão na igreja, seu ministério fique comprometido, diferente  dele mentir para sua esposa de que está com dor de cabeça e não quer ir lavar a louça. Os dois pecados são passíveis de condenação eterna? Sim. Os dois pecados são perdoados, mediante arrependimento, por intermédio de Cristo? Sim. A consequência temporal (antônimo de consequência eterna) é diferente? Sim.
Então, para cada tipo de pecado, além de uma punição diferente, ressalta-se o tratamento desse pecado. Tratamento no sentido de ajuda prestada ao pecador. Se alguém mente muito, é preciso que ela perceba que a verdade é muito mais saudável. É importante que ela entenda que, seja por qual motivo for, a mentira é um caminho destrutível, que lhe tira o crédito. Se ele é um assassino, é preciso que ele entenda o valor da vida, do outro, e que ele fique preso até que isso aconteça, pois seu pecado tem consequências na sociedade. E é nessas consequências na sociedade que reside um dos principais motivos de se fazer distinção de pecados. Quanto mais grave for o pecado, maior interferência terá na sociedade, prejudicando um número maior de pessoas, ou prejudicanto com mais intensidade as mesmas.
   Terceiro e último ponto. Além da importancia de determinar a devida punição, de saber como tratar o pecador e a consequencia na sociedade, ainda há espaço para mais uma importancia na distinção do pecado: o pecado é diferente para o próprio pecador. O próprio pecador sente na pele a diferença entre adulterar na mente e adulterar de fato. Os dois pecados, igualados por Jesus no sermão do monte, são passíveis de punição (condenação) por Deus? Sim. Inclusive era isso que Jesus queria mostrar. Mas a consequência é evidentemente diferente para o próprio adultero. Tanto fatídicas, como psicológicas. Por certo que se for adultério de fato, a mulher do sujeito vai sentir-se muito mais esculachada do que se for na mente (que por sua vez é muito mais difícil de se descobrir). Agora psicológicamente, a distinção é evidente também, e talvez tenha até ligação com a consequência fatídica. Ilustro aqui um jogo de futebol. Quem joga bola sabe a diferença entre errar um passe que nada prejudica o time e errar um gol, o gol da vitória. Como aquela culpa martela na cabeça!
   Portanto quero concluir que sim, existe diferença entre pecadinho e pecadão. Todo pecado é igualmente suficiente para te condenar. Todo pecado é igualmente perdoado por meio de Jesus Cristo. Mas haveria de se falar em “todo” pecado, se todos fossem igual. Bastaria falar que o pecado é condenável. Isso só mostra que a diferença no pecado está intrínseca em nós. A diferença que existe está na gravidade, consequência. Consequência está que não pode separar-se do ato/sentimento.
   Uma ultima observação que faço é que, apesar de existir pecadinho e pecadão, o pecadinho deve ser também combatido, pois sutilmente ele te prejudica muito. E desprezá-lo te leva a reiteradamente cometê-lo, até que a consequência seja tão caótica quando a do pecadão.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O que é dom de celibato?


O dom do celibato é a capacidade dada por Deus aos homens de viver sem a necessidade de relacionamento sexual. A incapacidade de resistir à necessidade de relacionamento sexual é o sinal de que o indivíduo não tem este dom:
“Mas, se não podem conter-se, casem-se…” (I Coríntios 7.9)
Como todo dom, é dado a alguns cristãos e não a outros:
“Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra”. (I Coríntios 7.7)
O objetivo desse dom é que o indivíduo fique livre pra se dedicar plenamente a obra de Deus, sem preocupações secundárias com família.
“E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher”. (I Coríntios 7.32-33)
Os dons dados por Deus para os cristãos são concedidos para o serviço na Igreja pela soberana vontade de Deus e não pela determinação autônoma do homem:
“cada um ande como Deus lhe repartiu, cada um como o Senhor o chamou. É o que ordeno em todas as igrejas”. (I Coríntios 7.17)
“Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis”. (I Coríntios 12.18)
É um dom muito útil em trabalhos missionários em lugares perigosos em que não convém que um homem coloque toda sua família em risco.
Contudo, a imposição do celibato conforme praticado pelo catolicismo romano é descrito pela Bíblia como uma doutrina de demônios:
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento…” (I Timóteo 4.1-3)
É uma doutrina de demônios, pois é uma tentativa de determinar, de forma autônoma, aquilo que somente Deus tem o direito de conceder. [...]

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Como aproveitar bem a palavra pregada no culto?

  Então, essa é uma postagem que vejo necessidade de divulgar entre meus irmãos na igreja onde congrego. Se estou certo, também será uma ajuda para seus irmãos na fé, ou até mesmo para você, prezado leitor. Não é nada genial, revolucionário, fantástico. É algo pessoal que compartilho com você. Serei breve e direi algumas maneiras que tenho praticado para aproveitar bastante os cultos onde congrego (a saber, Igreja Presbiteriana do Brasil).
Antes de mais nada, quero fazer uma ressalva que isso de que vou escrever não é um dogma. É apenas uma dica que pode contribuir muito para seu crescimento em conhecimento e maior proveito do culto.
Pois bem. Acontece que nem sempre, e em algumas igrejas quase nunca, o culto é agradável. Não falo questão das músicas tocadas, ou a maneira (liturgia) que o culto é conduzido. Mas digo pelo próprio pregador e pela mensagem que é pregada. Quando me refiro ao pregador, digo isso pelo fato de nem sempre o que é pregado ser um bom pregador (o que infelizmente tem sido constante). Não que ele não seja um crente, ou que não entenda o que está sendo dito por ele mesmo. Mas pelo fato dele não saber passar o que aprendeu de Deus (se é que a mensagem é mesmo de Deus). Sugiro que leia o curto post “Que não seja ‘ele’, mas o Senhor falando!” Será? . E isso torna o momento da palavra um tanto que entediante. Digo isso sem medo. Eu que sou amante da palavra, e sedento pela verdade. Os que comigo convivem sabe que falo sem mentir, e como trago isso a público, que se manifestem ao contrário se minto sobre mim. Não quero atrair méritos próprios, pois o que sou, sou pela graça de Deus. Portanto faço tal crítica (ao tédio de alguns cultos) não por não gostar do momento da Palavra (é o melhor pra mim, e normalmente o único que gosto), mas por gostar tanto, que escrevo o presente post afim de que os irmãos também o apreciem, como o faço. Mas eis que lhes apresento uma possível solução para tal infortúnio. Segue três passos de como aproveitar bem a palavra no culto:
Primeiro, antes de mais nada, você deve pedir a Deus para que aprenda algo que lhe ensinará lições de vida, de vida eterna. E para isso, você tem que aprender o que É sobre A Verdade. O que não for, pode até trazer uma mudança duradoura, mas vã diante do “tempo” da eternidade. Seja sincero em tentar aprender algo. Parece uma recomendação clichê, mas não é. Cito aqui a importante frase que algum teólogo, não me lembro quem, (e nem exatamente as palavras) disse em oração: “Que eu aprenda o que vem do Senhor, mas que eu rejeite o que não vem”. Completo isso em algumas das minhas orações, dizendo ao final “ainda que pareça interessante, bonito, atrativo e eficiente”. É muito sério esse negócio. “Julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1 Ts 5:21 ). É evidente que você precisa conhecer de bíblia para julgar, mas sem o poder de Deus, temo que será impossível para você alcançar resultados relevantes. Então procure ser sincero orando para Deus abrir sua mente e coração para entender as verdades (não estou dizendo sobre pluralismo de verdades sobre o mesmo assunto, mas de assuntos diferentes; existe a verdade sobre o que é corrupção e verdade sobre o que é quente e não quente. Mas não existem duas verdades sobre o que é quente, ou duas verdades sobre o mesmo assunto, no mesmo sentido, pois são conflitantes e auto-excludentes), captar os erros, se atentar ao teor da mensagem. Esse ponto todo mundo ta careca de saber. Mas suponho que há algum tempo, um irmão sincero entendeu a importância de cativar sua mente à mensagem e orou nesse sentido exposto até aqui, e ae alguém achou legal e passou adiante, e agora todo mundo ora mecanicamente sem entender que isso é fundamental.
Segundo, observe o texto pregado. Leia o texto atentamente, com a mente aberta se perguntando “o que vai ser pregado sobre esse texto?” Se já conhece o texto, e possíveis doutrinas tiradas desse texto, anote, ou tenha em mente. Se já aprendeu alguma lição desse texto, tenha isso em mente também. Lembre-se durante o culto que o texto base é uma palavra divina, inspirada por Deus (não estou falando da mensagem do pregador, mas da bíblia mesmo), e que se você entender o que ele (texto!) quer dizer, isso fará muita muita diferença pra sua vida. Com isso, siga para o passo final.
Por fim, analise se o que o pregador está falando tem a ver com a mensagem pregada (seu conhecimento bíblico será muito bem vindo aqui). Lembrando que a mensagem pode não estar de acordo com o texto em análise, mas ser verdadeiro por se adequar a outro texto das sagradas letras. Então pode ser verdadeiro mas não estar de acordo com o texto base pregado e nenhum outro, mas se tratar de uma verdade de outro campo de conhecimento, a saber, que o próprio Deus criou(!), como física, biologia, lógica. Aqui, é menos mal, mas não é, a risca, algo bom. Não é pois é importante que se frise a mensagem na mente, não só pelos próximos dias, mas sem data de validade. Uma meditação futura no texto será feita, e, provavelmente não se lembrará da pregação (ensino) que não se “encaixou” no texto. Se o texto tem sim algo a ver com a mensagem pregada, aprenda o que está sendo dito, rabiscando anotações na sua bíblia, se preciso, para depois meditar no significado do texto quando passar por ele novamente. Faça links com textos que você  lembra que falam do assunto. E para melhor proveito, veja se tem alguma praticidade imediata na sua vida. Por exemplo: veja se você é o tipo de pecador descrito na passagem, ou se você é o pai que pede “ajuda-me na minha falta de fé”, mas essa parte final, sobre praticidade, tratarei em outro post.
Espero que aproveite o máximo dos bons e maus pregadores com essas dicas. Graça e Paz ao povo escolhido por Deus!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O problema de julgar: até onde ir com a tolerância?

Por Cleber Olympio
"Quem é você para julgar teu próximo? Acaso estás se colocando na posição de Deus?"
Um dos argumentos mais usados em debates apologéticos, em quaisquer fóruns de debates - cristãos e não cristãos - versa sobre a questão do julgamento. Boa parte deles é derivada da famosa passagem bíblica, tratada como se texto de lei fosse: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão." (Mateus 7:1-5). Acontece que, como sabemos, muitos equívocos são cometidos quando alguém tira a passagem bíblica de seu contexto, e termina por deturpar o ensino bíblico sobre a questão do julgamento.
1. Da necessidade de julgar
Afinal, qual a raiz do problema? O ser humano, até como instinto de autoproteção, começa a colocar - ou até a impor - freios numa situação de conflito. É, de fato, desagradável uma sensação de antagonismo, vinda de quem quer que seja. Se a pessoa consegue se armar, inclusive psicologicamente, é um bom aspecto; difícil é quando a pessoa se sente acuada, sem ter como enfrentar a força contrária. Restam-lhe alternativas possíveis: render-se, atacar ou o escape. Render-se fica sem cogitação; atacar só é possível com as armas certas; daí que lhe vem, até como meio instintivo de sobrevivência, buscar um escape. Nisso vem a problemática do "não julgar" que, como colocado pelo argumento da tolerância, não possui qualquer validade, senão é uma tentativa errônea e grosseira de se fugir de uma questão.
Esse instinto de sobrevivência, em nome da cordialidade e da tolerância, mascara por vezes uma atitude arrogante de quem não admite a perda, diante de evidências ou argumentos mais fortes. Escorar-se numa pretensa base bíblica não conduz a nada, mas acaba sendo uma alternativa contra quem levanta o argumento e também não está devidamente protegido contra a "falácia do não julgar". Falácia é um argumento que possui a aparência de verdade e legitimidade, mas que no fundo esconde uma enorme mentira.
A cordialidade e a tolerância, levada a limites fora da normalidade, conduz a um comportamento incoerente e insensato. O crente é levado pelo seu Senhor a provar pensamentos e atitudes, a exercer suas faculdades mentais para promover uma análise de tudo o que se lhe apresenta aos olhos. Não fosse assim, Paulo não teria recomendado aos crentes: "Examinai tudo. Retende o bem" (1 Tessalonicenses 5:21). Em outra passagem, o mesmo Paulo exorta aos coríntios: "Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados" (2 Coríntios 13:5). Os crentes de Bereia examinavam as Escrituras para conferir se o que os apóstolos ensinavam era, de fato, verdade (Atos 17:11). Jesus mesmo manda que exerçamos nosso discernimento, examinando as Escrituras (João 5:39). Examinar, analisar, pesquisar, procurar, são atitudes do intelecto, que precisa exercer sua capacidade de juízo. Julgar, então, é necessidade de quem caminha com Jesus. Obedece-se aos mandamentos somente por meio da análise de uma situação real e com o juízo transformado pelo poder da Palavra de Deus, a fim de se produzir uma atitude. Se o crente não pudesse julgar, como viveria a realidade dos mandamentos de Cristo? Seria ele submisso a dogmas, impostos por um deus raivoso e mesquinho, que se preocupa tão somente em exigir comportamentos diversos de uma civilização, já corrompida pelo pecado? Entendemos que não. Deus sempre mostra, por toda a Bíblia, que sua Palavra tem finalidade educativa. Os versículos áureos sobre a importância das Escrituras demonstram plenamente esse fator: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2 Timóteo 3:16-17).
Vê-se, então, que há coerência na atividade do julgar, inclusive por necessidade de se viver uma vida cristã autêntica, com plena capacidade de discernimento, orientado em obediência às Escrituras. Outro aspecto é a condução necessária do crente na atividade julgadora, uma vez que ele deva examinar todas as coisas e reter o que é bom. Sendo assim, por que pautar-se numa suposta tolerância e expressão de cordialidade para supostamente evitar um confronto?
2. Do julgamento justo
Aparentemente a tolerância ensinada por Jesus deva ser observada em quaisquer circunstâncias. Cita-se também a passagem em que Jesus liberta a mulher adúltera, partindo-se do seguinte encadeamento de ideias: "Jesus condenou quem tivesse pecado e perdoou a adúltera - Ora, Jesus tem o poder de julgar alguém, e sou pecador - Logo, eu não posso julgar ninguém". Esse raciocínio também é falacioso. A inferência à primeira afirmativa não leva em consideração que Jesus usou-se de um julgamento com um importante adjetivo: "justo". Nisso ele exerceu um julgamento coerente, dada a situação em que se apresentava a condenação pura e simples de uma adúltera, sendo que seus algozes cometiam adultério e coisas até piores aos olhos de Deus às escondidas. O sentido do ensino de Jesus era demonstrar a força do perdão divino a quem cometeu uma série de pecados, não de produzir apenas um julgamento e execução de sentença conforme a Lei de Moisés. Caso ele apenas condenasse a adúltera, demonstrando somente a necessidade da aplicação da lei, que estaria fazendo, senão uma repetição de atos de pecadores, embora ele mesmo não tivesse pecado? Seu ensinamento estaria em franca contradição, ainda mais sendo Jesus conhecedor dos corações de cada um da multidão que se preparava para lapidar a mulher pega em adultério.
Com isso, havemos de discernir sobre o julgamento justo. Deus tem sua medida de justiça, e com ela exorta os homens: "Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?" (1 Coríntios 6: 2-4) Em todos os períodos há a certeza de que os santos haverão de julgar, seja o mundo, os anjos, ou até mesmo as coisas pertencentes a esta vida. O dever de um santo é julgar. Santo é aquele separado por Deus para constituir um povo eleito e para exercer, perante todos, as ordens de seu Pai celeste no que este comandar. Se isso deve ser feito até entre irmãos - versículo 5: "Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?" - quanto mais no que diz respeito a outros assuntos, conforme a necessidade?
A restrição bíblica que se faz a esse respeito está exatamente no termo "justo". Julgamento sem justiça produz injustiça. Se Deus investe os seus santos crentes com a capacidade de a tudo julgarem, Ele o faz requerendo justiça; caso contrário, não é julgamento que proceda do Deus cujo nome é Justiça. Deus requer que o homem faça justiça: "Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar" (Isaías 56:1). Repare o leitor acerca da importância de se praticar a justiça, a fim de que a própria justiça divina se manifeste. Não fosse assim, por que Deus incluiria na lei mosaica o mandamento de não se fazer injustiça no juízo (Levítico 19:15)? O justo age exatamente como o salmista: "Fiz juízo e justiça; não me entregues aos meus opressores." (Salmos 119:121). Deus ama a justiça e o juízo (Salmos 33:5); naturalmente, seus filhos amados haverão de observá-la e exercê-la e, ao agirem assim, nada mais farão do que a vontade do Pai.
Sendo assim, fazer julgamentos e exercer a justiça é próprio de quem caminha com Deus, conquanto o faça com a mesma motivação justa de seu Pai celeste. Se, porventura, o crente distorce a justiça, e passa a julgar por seu próprio entendimento, sem que haja fundamento baseado na verdade da Palavra de Deus, ele proferirá um julgamento injusto. Ele se tornará um hipócrita, que não enxerga as próprias falhas e vê as menores praticadas por seu irmão, assim como Jesus diz no texto de Mateus 7. Ele se tornará inimigo da verdade e condenado a suportar o mesmo fardo de justiça que tentou impor a quem não tinha culpa. Nisso estão as opiniões puramente pessoais, baseadas por vezes em suposições preconceituosas e relegadas a costumes, sem qualquer embasamento bíblico; isso também esconde um comportamento legalista ou ascético, que impõe a dureza da letra da lei para que o incauto, debaixo de uma força normativa, venha a se calar e a acatar os mandamentos como lhe são apresentados, sem ponderar. O mesmo comportamento legalista é aquele que provoca a simples conclusão de que "o crente não deve julgar", contrariando João 7:24: "Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça".
Outro texto usado pelos defensores do "não julgar" encontra-se em Romanos 14:10: "Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo". A solução para esse aparente problema encontra-se justamente na segunda questão: "por que desprezas teu irmão?" Ora, se há desprezo por parte de quem julga, então o julgamento é parcial, interesseiro. Logo, não é justo, e não deve ser feito. O julgamento com justiça persiste, portanto.
3. O comodismo e os perigos da tolerância
O comportamento legalista de comandar um "não julgamento" encerra dois perigos: o de produzir comodismo e o de tolerar o pecado. A postura cômoda de não enfrentar uma ideia antagônica torna-se perigosa por produzir indiferença quanto à verdade. Exalta-se a ignorância, com o pretenso argumento de que "no dia do Juízo Deus trará a lume todas as coisas, e que para isso não estamos preparados". Ora, Deus nos deu discernimento para usá-lo; se não o fazemos, cometemos pecado. O fato, ademais, de não termos como vislumbrar um julgamento futuro de todas as coisas não nos dá o direito de ignorarmos o ensino do exercício do juízo, inclusive para assuntos relacionados à nossa jornada nesta terra. E ainda: exercemos nesta vida propósitos e promessas que nos são dadas por Deus, e para tanto ele dá pessoas como juízes, inclusive para executar juízos em seu Nome. Relegar ao "etéreo" é uma forma de escapar da realidade, um recurso ridículo diante da seriedade com que a justiça divina deva ser levada. Por pura negligência, causada pelo comodismo, ações não são corrigidas hoje, e com isso mais vítimas são feitas pelas obras da injustiça.
Além disso, busca-se evitar o conflito pela pretensa tolerância. Comportamentos, organizações e fatos têm clara omissão em nome de uma cordialidade que não deveria existir. Deus chama os pecados pelo nome, e assim deve ser para conosco. Não se defende a "falta de educação", tampouco a falta de compromisso trazida pela tolerância exacerbada. Esse comportamento esconde medo do confronto, de uma indesejável exposição, afora outras consequências advindas de um comportamento mais ousado, desde que esteja seguramente pautado pela Palavra de Deus. O crente deve repudiar a tolerância a qualquer custo: por conta de não agir dessa maneira, toleram-se comportamentos mundanos no seio da igreja, a penetração de doutrinas estranhas que dividem o povo, a semelhança cada vez maior de cultos com shows e espetáculos produzidos por ímpios, dentre outras características que trazem repulsa ao Senhor e serão objeto de julgamento naquele Dia. E se somos do Senhor, devemos repudiar exatamente as mesmas obras, sob pena de sermos julgados pecadores por conivência ao aceitarmos conscientemente algo que Deus condena. O limite da tolerância está naquilo que contrarie, ainda que sutilmente, os ensinamentos das Escrituras. O pecado deve ser tratado como pecado, não como um "sentimento negativo" ou uma "energia do mal". Erros doutrinários devem ser tratados como problemas passíveis de eliminação da seara do Senhor. Tais ideias podem soar como "radicais", mas o ensino de Cristo é radical! Se não fosse assim, por que a Palavra foi comparada como espada? Jesus trouxe a espada, não a paz da falsa tolerância! Não se pode tolerar o pecado: caso tivessem sido tolerantes, Ló e sua família jamais teriam escapado de Sodoma.
Conclusões
Dessa maneira, podemos concluir que:
  • Julgar não é um mau em si mesmo, pois a tudo devemos examinar e reter o que é bom.
  • Julgar é necessário, pois é coerente com o discernimento que possuímos da parte de Deus.
  • Julgar não é tarefa exclusiva de Deus, pois se O imitamos, temos dele a propriedade para exercer juízo sobre todas as coisas.
  • Julgar, porém, deve ser feito sob o exercício da justiça, para não produzir o efeito contrário.
  • Julgar, ainda que contrarie o argumento da pretensa tolerância, deve ser efetivado, pois o crente verdadeiro não concorda com aquilo que a Bíblia chama de pecado, tampouco vem a exercer, em sua vida particular, comportamentos que o levem a ser incluído entre os mentirosos e os hipócritas.
  • Julgar é um ato de obediência à verdade e de amor a Deus, pois Ele é justo e ama a justiça.
Dessa maneira, que ninguém venha a condenar o leitor na sua nobre e necessária atividade de julgar. Que isso seja feito em plenitude, de modo justo e imparcial. Quem é de Deus não se dobrará à chantagem de um argumento que, baseado na mentira, no egoísmo, na falsidade e na corrupção, tenta promover exatamente o contrário da justiça: a tolerância com o erro.

Obra de referência:
KUIPER, Doug. Julgar: O Dever do Cristão (trad. Felipe Sabino de Araújo Neto). Covenant Protestant Reformed Church. Disponível emhttp://www.cprf.co.uk/languages/portuguese_judging.htm. Acesso em 23/05/2010.