quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tantas denominações...


   Uma música bem conhecida do Fruto Sagrado com o PG (O Novo Mandamento) começa com a seguinte letra: “Não entendo porque de tanta denominação”. E este presente post vai explicar pra vocês que não entenderam um (talvez o principal) motivo de “tanto nome de igreja”.
   Para entendermos esse motivo, devemos entender o que vamos chamar de Doutrinas Inegociáveis da Fé, e de Doutrinas Negociáveis. Talvez os termos não sejam os mais precisos, mas não quero quebrar a cabeça com nomes, contando que vocês entendam o significado do que vem a ser cada um.
   Por Doutrinas Inegociáveis da Fé (DIF) entendemos como aquelas doutrinas que são essências, que se retiradas comprometem totalmente a fé. Lembrando um pouco Aristóteles e sua explicação sobre elementos essenciais do ente e elementos acidentais, temos como elementos essenciais aqueles que se retirados desconfiguram o ser. Como exemplo, temos o triângulo, e um dos elementos essenciais é que ele tem três lados. Se retirarmos essa característica dele, ele não será mais um triângulo. Com as DIF acontece a mesma coisa. Se retiradas as doutrinas essenciais, não falamos mais em cristianismo, mas em qualquer outra coisa, e bem sabemos que “qualquer outra coisa” não é uma fé salvadora. Como exemplos de uma fé salvadora, viva, temos como elementos essenciais a encarnação de Jesus, a deidade de Cristo (totalmente homem, totalmente Deus) na encarnação, a ressurreição de Jesus, a triunidade de Deus, a onipotência de Deus, a revelação de Deus nas escrituras, entre outros. O que quero que percebam é que se retirarmos alguns desses elementos, não temos mais Cristianismo.
   Por outro lado, temos as Doutrinas Negociáveis (DN). Por negociáveis não entendam como mercancia de doutrina! Nem que não exista uma verdade sobre elas. Mas que se posicionar de forma equivocada sobre elas não desconfigura o Cristianismo. Para facilitar a compreensão, vamos voltar a Aristóteles. Já falamos dos elementos essenciais. Vamos agora aos elementos acidentais do ente. Um triângulo, desde que tenha três lados, a soma dos ângulos internos seja 180º, pode ainda sim ser diferente de outro triângulo quanto a cor das linhas, ao tamanho dos lados, se é isósceles etc. Enfim, essas características que não desfiguram o ente, mas diferencia o ente de outro com as mesmas características essenciais,  são os elementos acidentais. No cristianismo encontramos muitos desses elementos em particulares entendimentos, mas que não comprometem a fé da pessoa. Como exemplo tem o batismo. Alguns acham que é por aspersão, outros por imersão. Entretanto, essa convicção não compromete que os dois concordam com o sacramento e seu significado.
   Respondendo à dúvida levantada pela música temos uma explicação racional. Acontece que a divergência nos elementos acidentais acaba por gerar essa “divisão” de entendimento. E essa divisão acaba por gerar grupos que querem sinceramente servir ao Senhor, cada um segundo seu entendimento. Daí um possível e razoável motivo pra muitas denominações.
   É preciso, entretanto, fazer algumas ressalvas quanto a essa conclusão. I) nem toda “denominação” é de fato uma denominação, por falharem em pontos essenciais. Esse entendimento facilita muito compreender o que é uma seita. É uma pretensa denominação que falha nas DIF, e, portanto não pertence ao corpo de Cristo. II) a divisão deve ser apenas quanto ao modo de servir, não podendo criar divisão no corpo, a ponto de um Batista não considerar um Presbiteriano um irmão. Devem se considerar, mutuamente, como irmãos em Cristo. III) as DN ainda sim são doutrinas bíblicas, e por isso merecem atenção, debates e busca pela verdade.  O que não pode acontecer é deixar essas divergências doutrinárias gerarem brigas, inimizades. IV) e talvez mais importante, é que essa divisão deve desaparecer cada vez mais nos corações dos irmãos que compreendem verdades sobre as DN. Devem ser minimizadas. Cabe a todos nós lutarmos pela unidade no corpo, e estudar, debater e difundir a verdade sobre tais doutrinas negociáveis é dever de todos nós que amamos o Senhor e seu reino.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Regras para um bom debate

   Recentemente tivemos um tema importante debatido entre amigos da igreja em uma programação. Enfim, eu juntei uma parte do livro do Norm Geisler e Frank Turek e acrescentei algumas considerações que julgo serem importantes sobre os debatedores. É importante ter em mente essas regras não só para debates formais, mas para qualquer conversa em que posições diferente são defendidas. 

*Seguem-se algumas lições do Doutor Norm Geisler sobre a verdade:
·“A verdade é descoberta, e não inventada. Ela existe independentemente do conhecimento que uma pessoa tenha dela (a lei da gravidade existia antes de Newton).
·A verdade é transcultural. Se alguma coisa é verdadeira, então ela é verdadeira para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas (2 + 2 = 4 para todo o mundo, em todo lugar, o tempo todo).
·A verdade é imutável, embora as nossas crenças sobre a verdade possam mudar (quando começamos a acreditar que a Terra era redonda, em vez de plana, a verdade sobre a Terra não mudou; o que mudou foi nossa crença sobre a forma da Terra).
·As crenças não podem mudar um fato, não importa com que seriedade elas sejam esposadas (alguém pode sinceramente acreditar que o mundo é plano, mas isso faz apenas a pessoa estar sinceramente errada).
·A verdade não é afetada pela atitude de quem a professa (uma pessoa arrogante não torna falsa a verdade que ela professa. Uma pessoa humilde não faz o erro que ela professa transformar-se em verdade).
·Todas as verdades são verdades absolutas. Até mesmo as verdades que parecem ser relativas são realmente absolutas (e.g., a afirmação "Eu, Frank Tutek, senti calor no dia 20 de novembro de 2003"[1] aparentemente é uma verdade relativa, mas é realmente absoluta para todo o mundo, em todos os lugares, que Frank Turek teve a sensação de calor naquele dia).”¹
*Temos então algumas considerações sobre os debatedores:
         * É preciso que se mantenha o foco no que se quer defender. Para isso, é de suma importância a definição semântica dos termos discutidos, para não acontecer de estarem defendendo a mesma ideia (proposição), com termos diferentes. Em resumo, é importante determinar e delimitar o que se defende.
                   *A delimitação vai dizer o que não se pretende defender, enquando a determinação diz o que se pretende.
         * Antes de partir pra um outro ponto é preciso fechar ponto a ponto. É vetado o famoso “ataque em bando”. Ataque em bando é a situação em que um dos debatedores apontam mais de um ponto suscetíveis de discussão em um só argumento. Esse tipo de argumentação parece ter finalidade de vencer por exaustão o adversário.
         *Deve-se levar em consideração que não responder um ponto não implica necessariamente em descrédito de todos os outros argumentos do outro debatedor, a não ser que esse ponto seja crucial para toda a argumentação. (Ex: não é possível continuar um debate sobre o que é moral e o que não é, se um dos debatedores não consegue provar a existência da moral).
         *Deve-se levar em consideração a possível dialética. Isso é, se A se posiciona com argumentos X e B se posiciona com argumentos Y, talvez pode-se aproveitar tanto de X quanto de Y, tendo um resultado Z, que elimina os pontos fracos dos argumentos de A e B, e conciliam os pontos aproveitáveis. Essa situação é bem difícil de acontecer, e exige sinceridade e sabedoria dos debatedores.
Enfim, irmãos, espero que o debate seja extremamente proveitoso pra todos. Leiam essas regras mais de uma vez, se preciso. Serão importante não só pra esse debate, mas pra vida toda. 

Lembrem-se de que nós, cristãos, não precisamos temer entrar em nenhum debate. A verdade sempre venceu, e esteve ao nosso lado. Então você só vai perder se estiver mal preparado. E nenhuma verdade é anti-bíblica. Pelo contrário. Se uma verdade filosófica está em desacordo com a bíblia, então ou é uma mentira, ou sua interpretação bíblica está errada. Temos visto isso na história da igreja. Portanto, por Cristo e seu reino, dediquem-se em guerrear pela Verdade! 

1 – Não tenho fé suficiente para ser ateu, GEISLER, Norman & TUREK, Frank (não sei a página não ehaehaehe, mas está no capítulo 1)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Deus castiga?

   Enfim, não vou enrolar. Vou direto ao ponto. Deus castiga ou não? Vejo muita gente falando do assunto sem embasamento bíblico. Tentarei resolver essa problemática aqui nesse post de forma rápida. 
   Primeiro, o que é castigo? Castigo é encarado como uma punição por um ato, como caráter retributivo (você quebrou, você concerta. Se não pode, você paga pelo prejuízo), mas também como algo educativo, quando um pai, e.g., não quer que o filho pague o estrago, mas que aprenda que estragar é errado. 
   Se encaramos o castigo com a concepção de caráter retributivo, então estamos corretos em afirmar que Deus não castiga. Pelo menos não os filhos, uma vez que todo castigo pelo estrago feito de nossos erros já foram pagos por Cristo. ("Havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, tirou-o [Jesus] do meio de nós, cravando-o na cruz." Colossenses 2:14). 
   Agora se, por outro lado, conseguimos ver o caráter educativo, com função ética do castigo, então estamos de acordo com:  "Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho.Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?"Hebreus 12:6-7
   Assim, vale lembrar também que Deus não necessariamente castiga todo pecado cometido. Ele tem total legalidade para não punir, uma vez que todo o estrago já foi pago. Tem total legalidade pra não castigar de forma alguma, já que o Crente pode se encontrar profundamente arrependido e educado quanto ao malefício do tal deslize cometido. 
   Nestes termos, podemos concluir que Deus castiga sim. Não para punir, mas para educar, e isso, que fique claro, quando lhe aprouver fazê-lo. Não é regra que ele castigará. Se ele castigar, seus olhos não devem ver um carrasco, mas de um pai amoroso tirando a faca da mão de um bebê.

Objeção à reflexão filosófica (III)

Na primeira parte deste breve ensaio abordamos a objeção bíblica no que diz respeito a reflexão filosófica. Na segunda parte vimos a objeção teológica. Agora vejamos na parte III:Objeção Dogmática.


Objeção dogmática

Chamo este ponto de objeção dogmática, pois é a mais infundada de todas as objeções. É pura e simplesmente baseada no senso comum, que por sua vez é o pensamento de quem tem preguiça de pensar. É uma objeção fundamentalista e epistemologicamente desprovida de seriedade. Ou seja, o dogmático apenas versa sobre algo como enxerga este algo, ou como ele aparece ser e não como é de fato. Então, se a maioria dos filósofos são ateus e hostis ao cristianismo, a filosofia passa a ser sinônimo de incredulidade. Ora, quer dizer que se a maioria dos pastores são “a pior espécie de hipócritas”, todos devem ser? Claro que não, Deus tem seus remanescentes, alguns que não se dobram a Baal, inclusive na filosofia.

Quanto a esta precipitada constatação (de que toda filosofia é ateísta) devemos ir com calma. Luis Sayão nos diz que “ainda que fosse verdade, a validade da filosofia não estaria necessariamente ameaçada” (2001, p. 8). Ora, quando você vai ao médico você não está interessado se ele é cristão ou não, mas se ele é um bom profissional. E nem quando lê o jornal e a revista semanal fica questionando se quem escreveu é cristão, apenas queremos a verdade dos fatos noticiada fielmente, e isto porque sabemos que a graça comum de Deus permeia toda a existência, de modo que a verdade é a verdade quem quer que seja seu portador.

Este aspecto ontológico da verdade deve nos fazer lembrar aos dogmáticos que por outro lado, temos filósofos de destaque em toda história que acreditavam de todo coração nas verdades cristãs. Nomes como Agostinho, Anselmo, Aquino, Blaise Pascal e Kierkegaard são grandes exemplos.

Por Daniel Grubba no Soli Deo Gloria

quarta-feira, 7 de março de 2012

Objeção à reflexão filosófica (II)

Na primeira parte deste breve ensaio abordamos a objeção bíblica no que diz respeito a reflexão filosófica. Agora vejamos na parte II: Objeção Teológica.

Tertuliano

Todas as críticas da interação cristianismo-filosofia parecem remontar a Tertuliano (séc. I-II), advogado romano do século III que se converteu ao cristianismo. É bem provável que ele tenha sido o primeiro a questionar o papel da filosofia para a compreensão dos conteúdos evangélicos e também o primeiro a negar aos cristãos o acesso a herança intelectual e cultural para propósitos evangelísticos. Wolfhart Pannenberg (2008, p.18) confirma este dado:

"A concepção de que a doutrina cristã nada tem haver com a filosofia, e que toda ligação com o pensar filosófico seria paga com o preço de sua autenticidade como teologia da revelação, reiteradamente se tem reportado a Tertuliano como seu ancestral ". 

Sua famosa pergunta retórica ecoa até hoje: Que relação há entre Atenas e Jerusalém? Que importância tem a Academia de Platão tem para a igreja? A resposta parece ser clara para Tertuliano: o cristianismo deve se manter distante da reflexão filosófica não importa quão louvável sejam os motivos.

Porém, é no mínimo estranho Tertuliano ter questionado o papel da filosofia, uma vez que ele era alguém versado no conhecimento , apologista da fé cristã e profissional em retórica . No entanto, a resposta parece estar em seu rigoroso ascetismo e exagerado conceito de santidade. Para Tertuliano a igreja deve se manter santa e incontaminada, e este conceito seria o cerne de sua teologia. Wiliston Walker (2006, p. 98) diz que observar as palavras de Deus, segundo Tertuliano, significa uma existência separada do mundo, o qual tinha o culto idólatra dos demônios. Maurice Nédoncelle (1905-1976), filósofo e teólogo francês, também observa que:

"Para ele (Tertuliano), heréticos e filósofos são uma coisa só: fazem as mesmas perguntas, exploram os mesmos domínios, perguntam-se de onde vem o mal, porque e de onde vem o homem, como é constituído o universo, etc. Eles respondem com o auxilio de princípios obscuros que acham peremptórios e que se reduzem a palavras pedantes e ridículas" (1958, p. 33).

Para não fazer injustiça a importância de Tertuliano na história do cristianismo, Norman Geisler (2002, p. 825-826), renomado apologista cristão, sai em sua defesa dizendo que Tertuliano é acusado falsamente de irracionalismo, e que apesar de sua forte influencia na fé, ele acreditava que havia um papel importante para a razão humana na defesa da religião cristã.

Karl Barth

Alister Macgrath (2005, p.260), professor de teologia histórica na Universidade de Oxford e um dos mais influentes pensadores cristãos da atualidade, sugere que a atitude mais negativa diante da interação cristianismo-filosofia, adotada na teologia cristã recente, tenha sido a de karl Barth. Porém, isto não quer dizer necessariamente que Barth fosse contra o estudo da filosofia , ou um antiintelectual. Barth na verdade por seu próprio mérito se veio a firmar-se como um grande intelectual. Sua crítica, no entanto, era contra o uso da filosofia e revelação natural como um ponto de contato (Anknüpfungspunkt) da revelação divina com a natureza humana para fins evangelísticos. Para Barth, Deus não precisa de nenhuma ajuda para tornar-se conhecido. Quanto a este assunto, ele diz:

"Deus não se dá a conhecer pelos poderes do conhecimento humano; só se pode apreendê-lo, e ele só se deixa apreender por causa de sua própria liberdade, decisão e ação" (BARTH apud MACGRATH, 2008, p.30).

A critica que se faz da teologia existencialista de Barth, pelo menos por parte dos apologistas-polemistas da fé cristã, é justamente o caráter fideista do sistema barthiniano. Francis Schaeffer (2007, p.43) em A morte da razão diz que no existencialismo religioso de Barth “não há lugar para a razão e nem ponto de verificação”. E segundo Alister Mcgrath, isto é um problema que se volta contra o próprio sistema neo-ortodoxo barthiniano. Ou seja, como a alegação de Barth é exclusivamente baseada na revelação divina, ela não pode ser avaliada senão por essa mesma revelação, desembocando necessariamente em um círculo vicioso. Em outras palavras, Mcgrath diz que “não existem pontos de referências externos, pelos quais as alegações da neo-ortodoxia possam ser verificadas” (2005, p.145).


Por Daniel Grubba no Soli Deo Gloria

segunda-feira, 5 de março de 2012

Objeção à reflexão filosófica



interação entre filosofia e cristianismo é uma relação de amor e ódio. Desde os primórdios da fé cristã até os dias modernos esta parece ser uma questão ainda não resolvida.

Os que advogam a irrelevância do conhecimento filosófico para o cristianismo, naturalmente se armam de uma série de argumentos filosóficos e sem querer tornam-se contraditórios, pois argumentam mediante um processo que condenam. E foi por esta ironia que o filósofo e matemático francês Blaise Pascal disse: “Zombar da filosofia é, em verdade filosofar” (PASCAL apud SAYÃO, 2001, p.10). Isto é, todo aquele que ridiculariza o exercício filosófico, somente o faz através de uma reflexão filosófica. Entretanto, a questão é a qualidade desta reflexão, se é consistente ou não. Vejamos então as principais objeções dos críticos da interação entre o cristianismo e a filosofia.

Objeção bíblica

A primeira objeção sempre parecer ser esta: textos bíblicos. E é natural que seja assim. Isto porque este tipo de crítico da interação cristianismo-filosofia, pela pobreza de alcance de sua argumentação filosófica, sempre se valerá de algum versículo que encerre a discussão sem maiores reflexões. Seu método argumentativo, em virtude da preguiça intelectual, se dá através do caminho mais rápido e fácil: a recitação de versículos antiintelectuais.

Vejamos apenas dois textos comumente usados para refutar o estudo da filosofia: Colossenses 2.82 Coríntios 3.6

Colossenses 2.8 – Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.

Uma leitura superficial parece sugerir uma condenação paulina acerca do exercício filosófico. Todavia, um estudo mais detalhado do contexto histórico-religioso da igreja em Colossos deixa claro que Paulo não estava condenando a filosofia em si, mas um tipo específico de filosofia: a filosofia vã e enganosa. De acordo com as evidências externas e internas do texto, é possível que Paulo esteja condenando um sistema de pensamento sincrético, que mistura elementos judaizantes e gnósticos . Além do mais, Paulo era um ex-fariseu, erudito da principal academia judaica do primeiro século (escola de Hillel) e um profundo conhecedor da filosofia e literatura grega (Atos 17.27, 28; Tito 1.13,14). Cabe uma pergunta aqui: Como Paulo poderia condenar algo que, em algumas ocasiões serviram para ele como “ponto de contato” com a cultura específica de um determinado local, conforme mostra com exatidão o registro de sua homilia com os filósofos de Atenas (Atos 17.15-34)?

Coríntios 3.6 – Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.

Este texto parece ser o mais usado contra aqueles que procuram desenvolver uma vida intelectual no ambiente cristão, principalmente os que declaram seu “amor pela sabedoria” (significado etimológico da palavra filosofia). Eu mesmo cansei de ouvir esta ameaça: irmão cuidado, a letra mata! Na verdade, eu sei que meus irmãos não fazem por mal, pois a sinceridade de sua crítica ao intelectualismo reside no fato de que no processo do acúmulo cognitivo do saber, muitos cristãos se tornam inoperantes e improdutivos no pleno conhecimento do Senhor (2 Pedro 1.5-9). Todavia, uma coisa é a experiência do fracasso espiritual de alguns, outra complemente diferente é usar um texto fora de contexto. Trata-se, pois, de um argumento falacioso.

Como este breve ensaio não tem objetivo exegético, basta elucidar que o texto bíblico em questão não se refere a reflexão filosófica ou ao estudo diligente das letras, mas aborda o perigo do legalismo. Isto é, ao fatal apego a Lei mosaica para a salvação. E por esta razão, a afirmação de Paulo é contundente em dizer que a “letra mata”. A perícope de 2 Co. 3.1-18 é uma questão teológica tipicamente paulina. De acordo com Rick Nañez “a letra a que Paulo se refere é simplesmente a lei da antiga aliança” (2007, p.70).


Por Daniel Grubba no Soli Deo Gloria

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Podemos usar boné e bermuda na igreja?

   Minha primeira dificuldade ao escrever esse post é sobre como classifica-lo. Qual Marcador? Afinal, a exigência é tão difícil de se justificar, como encontrar a classificação do assunto. Entretanto, essa exigência se faz presente em muitos templos nos dias de hoje. Então, vamos lá.
   Elencarei alguns argumentos e tentarei refutá-los com raciocínios simples. Caso eu esteja errado, quero que comentem e me ensinem. Caso contrário, leve esses argumentos adiante.

1º Argumento: Você não vai no fórum com essa roupa
   Aparentemente um bom argumento. Se eu vou todo arrumado no fórum, porque não posso ir à igreja bem arrumado e “devidamente” trajado? Esse argumento pode ser transvestido de outras formas, como “Você não vê o presidente assim, não é mesmo?”.

2º Argumento: Isso é falta de respeito.
   Esse argumento é derivado do primeiro. Afinal, se no fórum eu me porto de forma respeitosa em questão de vestimento, o que dizer então na igreja. Sem contar que quem está na igreja é bem mais importante que os juízes, promotodes, defensores públicos, advogados, presidentes etc.

   Esses dois argumentos tem um coração que os justificam. Entretanto, se esse coração falhar, esses argumentos morrem. E esse coração é a consideração que a igreja é casa de Deus. Uma falha catastrófica, que leva a comportamentos ruins.
   O problema se torna mais grave quando se trata de jovens e adolescentes. Uma vez li um articulista dizendo, sabiamente, que pro adolescente que está naquela transição de cabelo curto pra grande, passa pelo momento em que o cabelo fica horrível. Nesse momento, o boné passa a ser parte do corpo dele. Onde o boné não é bem vindo, ele não é! Se esse jovem não pode entrar de boné na igreja, ele não vai à igreja. Simples assim. Mesmo porque, aquela menina tão lindinha que ele é apaixonado a alguns anos vai ver aquela juba feia (mas que vai ficar bonita, pelo menos na cabeça do cidadão). Isso não pode acontecer!
A igreja não é casa de Deus, jovens senhores. Vejamos o que Paulo, discutindo com os atenienses (peritos em criar casas para deuses):

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens 
Atos 17:24
Também vejamos essas palavras sagradas:

No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito. Efésios 2:22
Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 1Coríntios 3:16
   Estes textos, ao meu ver, já são em si um raciocínio completo demonstrando que o templo onde se presta culto público não é casa de Deus. Deus habita em toda criatura regenerada, manifestadamente, na pessoa do Espírito Santo. Os crentes convertidos, estes sim são casa de Deus.
   Sendo assim, vamos direto aos argumentos

1º Não, realmente eu não vou ao fórum ou a qualquer lugar solene com bermuda e boné. Entretanto, ainda que aqui fosse casa de Deus, seria casa do meu pai. Eu não fico em casa de terno e gravata. O rei veio humildemente à terra. Não veio por cima. Sendo rei, não se vestiu em panos finos e caros. Mas se adornou em obras perfeitas, humildes e majestosas, dignas de sua natureza. Lavou os pés dos apóstolos, se misturou com a multidão. Se estivesse tão destacado em vestes, seria distinguido da multidão e teria tomado pedrada depois de afirmar ser Deus em João 8: Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou. João 8:59
Ele saiu do templo, meu caro leitor. Ele se vestia como a multidão e não com a mais fina roupa. E se algum de nós quer seguir exemplo de alguém que agradou a Deus, como homem, do início ao fim, temos o perfeito Cristo.

2º Considerando que é falta de respeito, eu queria saber uma coisa. É falta de respeito dentro da igreja e fora da igreja não? Porque seria falta de respeito? Falta de respeito com quem? Com Deus ou com você? Se for com Deus, voltamos ao ponto de que Deus está fora e dentro do templo. Sendo assim, a proibição deveria ser dentro e fora do templo. Essa questão de falta de respeito é bem complicada. Na verdade eu acho uma falta de respeito exigir que alguém use terno e gravata num calorão. Agora onde é que está a falta de respeito em usar uma bermuda? Atentado violento ao pudor? Bermuda e boné não atentam contra a moral, portanto, não atentam contra respeito. Não é falta de respeito, meu caro. Só é contra seu gosto, no máximo. Deus não desaprova.

   Eu poderia discorrer mais em contra-argumentos, entretanto que fique claro que se a vestimenta não for imoral, é plenamente permitida. Esses senhores da ética eclesiástica deveriam se preocupar mais com a educação moral de seus filhos, que vem beeeeeeeeeem antes do vestir, para então se preocupar com essas coisas menores. O mais infeliz é que muitos dos que se posicionam contra boné e bermuda não o fazem por serem uns pregos desvairados. Mas eles acreditam que estão agradando a Deus. Mas falham em conhecer bem o Senhor para saber se isso que fazem tem valor. E pra Deus, esse zelo desarrazoado é risco n’água. Afinal, o maior mandamento é também amar Deus com todo entendimento. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Oi. Você vai morrer!

Introdução
   Talvez nem todos estejam familiarizados com uma história linda que irei falar a respeito. Na verdade, ela já era muito linda e ficou mais ainda quando entendi a explicação de um texto, no último acampamento que fui, nesse fim de semana. Uma boa notícia que mudou o coração amargurado de um figurassa!
   A situação começa quando um camarada impulsivo chamado Pedro faz uma bobeira enorme. Ele nega Jesus, covardemente, por 3 vezes. E depois desse acontecimento (que espero que todos se lembrem. Caso contrário o post não será tão impactante quanto foi pra mim e quem entendeu) preciso que uma imagem paire no ar.
   As sagradas letras nos dizem que Jesus olhou para Pedro, logo após ele ter negado Jesus. (“E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.” Lucas 22:61). Pode imaginar qual foi o semblante de Jesus? Talvez do tipo que diz: “Eu não falei.” (sabe aquele tipo de mãe que diz que você ia fazer cagada, e depois da cagada vem com um ar de “não foi por falta de avisar”? Então, to falando disso.); Quem sabe um olhar irado por aquele vexame do apóstolo que conviveu com a encarnação da simpatia. Era de fato muito grilante, e essa face irada é, a priori, logicamente possível. Mas eu não vejo isso. A título de especulação, mas não uma desprovida de motivação, eu entendo que Jesus olhou com um olhar de misericórdia, do tipo “cara, não esquenta. Eu te curto!” Isso me “quebraria” muito mais. O primeiro olhar que falei me daria raiva. O segundo, medo. Mas o terceiro me faria chorar de vergonha e arrependimento. E o Pedrão chorou muito. “E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.” Lucas 22:62

   Tendo isso em mente, vamos para João 21: 15-19 (leia! É bem rápido)  =]. Clicando no texto ali, vai direto pra página. (Isso pra você que, como eu, tem preguiça de ficar abrindo a bíblia enquanto está lendo artigo)

Considerações iniciais do texto

   Nesse ponto Jesus já ressuscitou. Pedro e alguns outros discípulos, como o Dídimo (o Tomé), vão pescar. Uma música do João Alexandre, chamada Vou Pescar, parece retratar muito bem a mente do apóstolo explosivo. A letra diz “Vou pescar, parece que acordei de um longo sono. Parece até que eu parei no tempo. Parece até que nada aconteceu. Quem sabe ele apareça novamente. Quem sabe volte a me chamar de amigo. Quem sabe chegue andando sobre as águas. Quem sabe?”  Tentar entender a mente deles nesse momento é doloroso. Pedro não tinha tido uma conversa direta a respeito daquele acontecimento lamentável na página de sua vida com Deus. Ele já tinha sido perdoado. Já se arrependera. Entretanto, ainda existia aquela ferida vergonhosa do que foi feito. Pedro, aquele em que pelo Espírito disse quem Jesus de fato era, tinha sua história com A Verdade Encarnada manchada.  O Senhor disse “Será pescador de homens” numa cena parecida com a que viria (Pedro quando foi chamado a primeira vez por Jesus, convidado a ser pescador de homens, estava pescando, mas não havia sido bem sucedido). A história se repete como um lindo final de filme. Jesus aparece novamente aos discípulos pedindo peixe. Mas esses não reconheceram, até que ele pede pra jogar a rede novamente, já que os discípulos não tinham pescado nada. Daí, a cena se repetiu. Muitos peixes na rede e o reconhecimento de João : “É o Senhor”. Que cena linda!

O confronto

   Enfim, vamos adiantar um pouco a cena. Jesus está com Pedro, depois de terem comido pães e peixes. Jesus pergunta por 3 vezes se Pedro o ama. Entretanto, uma coisa fica bem mais claro quando recorremos à linguagem original. Jesus pergunta usando agapao duas vezes, usando o sentido de um amor deliberado. Pedro responde com phileo/fileo. O Phileo é uma forma menos intensa de amor, correspondente a, talvez, “gosto de” (lições de F.Davidson). Na verdade o “Fileo” é um amor inferior ao amor agapao.  Tendo isso em mente, a cena se passa com Jesus perguntando se ele amava com um amor elevado, e Pedro respondendo que amava com um amor não tão grande, como aquele de Mc 14:29 (“E disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu.”Marcos 14:29), mas com um amor sincero, porém inferior. Posso estar errado, mas da a entender que Pedro amadureceu. Talvez ele não fosse mais tão tolo para afirmar um amor tão grande, sabendo ele como fora podre, como ele de fato é podre. Ele havia sido perdoado sim, por Jesus, mas a ferida estava ali, com Pedro. E por fim, Jesus rebaixa o nível do amor e pergunta a terceira vez, mas agora, usando Fileo também. 3 vezes... é claro que isso lembrava uma história passada. E mais, não só repetiu 3 vezes a pergunta, como perguntou agora sobre o amor inferior que ele anunciou. Porque Jesus estaria ressuscitado uma história que trouxe tanta dor e vergonha para Pedro?

A notícia

   A resposta vem em seguida. E é aqui a grande sacada. Quando li pela primeira vez a resposta de Jesus, pensei que Jesus estaria dando uma má notícia para Pedro. Mas não. Definitivamente não. Jesus anunciou que Pedro ia ter uma morte sinistra, humilhante, dolorosa...
...
E a boa notícia?

    Sim, essa foi a boa notícia. Se você conferir o texto Jesus só não disse que ele ia morrer, mas que ele ia ser fiel. Confira (percebeu?).  Dessa vez, Pedro não negaria. E por não negar, ele morreria. Isso é lindo, gente. É o que Pedro talvez mais quisesse ouvir, sabe por quê? Depois daquela conversa ali atrás, acho que eu mesmo me perguntaria se realmente amo o Senhor. Mas Jesus disse algo do tipo “Pedrão, você me ama mesmo. E isso é tão verdade, cara, que quando você puder me negar novamente, morrerá por amor.”
Emocionante, não? Termino com a frase de um amigo, que disse algo parecido com:  “Uma história linda, onde um morreu pelo outro.” Um por amor deliberado, que tomou iniciativa. O outro por ser amado primeiro, e amar depois.  Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro. 1 João 4:19

sábado, 21 de janeiro de 2012

Olha "O Cara"!!!

   Não é difícil ver uma cambada de menina sem noção dando bobeira em diversas situações para ver e tocar seu "famoso favorito", ou dizer "Me engravida, Neymar"(sic).
   Sim, estas meninas estão histéricas, loucas por um momento com seu ídolo. Aliás, eu mesmo queria trocar umas ideias com algumas celebridades do mundo da teologia. Não vou justificar minha vontade aqui, mas digo que não é pela pessoa, mas pelo conhecimento dela que eu iria atras. E olha lá. Iria atras assim, se realmente fosse possível. Qualquer sombra de impossibilidade me deixaria apenas nos livros do teólogo. Nada mais.

Antes, algumas informações

   Entretanto, aconteceu uma cena incrível em Betânia. Um tal de João Batista tinha sido interrogado se ele era o Cristo. Imagino que o cara era muito crente, muito justo, correto, íntegro. As pessoas não perguntariam isso do Fernandinho Beira-Mar. E, como alguns sabem, surgiram muitos falsos messias no período helênico (mais ou menos entre 400 a.C até 50 a.C). Porém, Jesus reunia o diferencial de todos esses Messias. Ele não era o líder bélico, militar, que os Judeus esperavam. Não eram um que traria ascensão de Israel, que desde o retorno do cativeiro (por volta de 539 a.C) sempre estiveram sobre domínio estrangeiro.  Mas cumpriu todas as profecias, interpretadas corretamente. A probabilidade disso acontecer era ridiculamente pequena. Mas esse é assunto de outro post. Por agora, quero me concentrar na cena incrível que falei no início.

João 1:35-40 (clicando aqui vai direto pra bíblia online)


   Depois de batizar Jesus, um outro dia, João estava em Betânia de novo, junto com mais dois discípulos. Aí passa Jesus e João diz "Esse é o cara, bixo!". Os dois vão atras de Jesus. Chego a algumas conclusões. Primeiro: Os dois discípulos de João realmente botavam fé no que ele dizia. Eu mesmo, um pouco cético que sou, iria perguntar "Como tem tanta certeza? Será mesmo?". Enfim, imagino que, conhecendo as profecias bíblicas a respeito do Messias, os dois discípulos foram seguindo ele, maravilhados. "Caraca! Era o próprio criador de tudo que estava ali, andando na minha frente", acho que foi o que André contou um tempo depois a alguns amigos, daquela experiência. Segundo: Alguns "líderes" da fé não iriam gostar nenhum pouco de "perder" ovelhas para esse tal de Jesus.

O clímax

   O momento mais marcante dessa passagem é que Jesus se voltou para os dois e perguntou "Que buscais?" Eu imagino Jesus muito gentil nessa hora. Ele é muito diferente dos seres humanos do nosso dia-a-dia. Se fosse você, vendo que alguém te seguia, o que faria? Se parasse para perguntar "Que buscais?", provavelmente seria algo do tipo "Ta querendo alguma coisa? É que tenho a impressão que você ta me seguindo." Na melhor da hipóteses, como bom crente, faria essa pergunta tentando ser gentil. Mas a resposta dos dois foi até um pouco engraçada. Eles perguntaram onde ele morava. Sim. Nessa hora eu teria certeza que queriam me roubar. E é exatamente aí que entendo que Jesus foi diferenciado. Ele os chamou para ir na casa dele (como quem sabia o que realmente estava fazendo). Estaria Jesus usando de atributos divinos pra saber que aqueles não queriam roubá-lo? O que Ele pretendia convidando-os para sua casa? Porque queriam saber onde Ele morava?

   Que dia que isso acontece com qualquer um desses ídolos modernos? Primeiro que eles não se voltariam para os fãs para saber o que eles querem, a não ser que fosse interessante fazê-lo. Segundo que não levariam esses desconhecidos para casa, para uma boa conversa (mesmo porque estes não tem, geralmente, uma boa conversa para oferecer).

  E que dia para André e seu amigo! Tantas perguntas. Tanta coisa para pedir, tanta coisa para agradecer. Um dia na casa daquele que realmente merece todo alarde, euforia, histeria (no melhor sentido destas palavras).

Huum... e daí?

   Esse mesmo Jesus passa por muitos, "nas ruas" e é ignorado. Outras vezes,as pessoas começam a segui-lo, e até ficam admiradas. Mas passa um amigo do lado e diz "opa!" e mina toda sua atenção. Se você ignorou esse Jesus até hoje, agora, nesse exato momento, pegue os evangelhos e leia, anote suas dúvidas, e procure quem pode respondê-las, como fez certa vez um eunuco: "E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse." 
Atos 8:31
   Se você começou a segui-lo, mas o perdeu de vista, por ter se distraído, e esta perdido, na rua, sem saber a direção, olhe pro céu, e peça que de lá venha a direção. Não demora muito até dobrar a esquina um "homem" com as mãos furadas para te dizer "Siga-me". 

sábado, 7 de janeiro de 2012

Melhores, Piores ou Diferentes?

Intro – Teologia Popular 

   Em muitos lugares a teologia de buteco (a teologia de “achismos”, sem rigor teológico, pesquisa) vem tomando lugar nos pensamentos dos crentes. Muitos crentes sinceros acabam errando, comprometendo sua conduta e testemunho por conhecerem, mas conhecerem de um conhecimento errado. É isso que a teologia de buteco, teologia popular representa. O termo é meramente didático, pois neste artigo trataremos de mais uma “doutrina” da teologia que não é teologia.

“Não somos melhores que os do mundo”.

   Quem nunca ouviu isso: “Você por estar na igreja, não é melhor que as pessoas do mundo.”? Mas que consideração piedosa, não é mesmo? Que humildade, que pessoa conhecedora da palavra em falar isso, não é mesmo? Não tão depressa.
Aos convertidos que estão lendo esse post, provavelmente já se sentiram incomodados com a pretensa doutrina. Uma vez que eles veem em si uma diferença absurda das pessoas lá fora. Não que estes regenerados não pequem mais. Mas eles odeiam o pecado, lutam contra ele, enfim, porque já experimentaram: E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12:2).
   Existe uma diferença cabal. Antes de me converter, o evangelho veio até mim por sábios mestres (pacientes também, por aguentar eu e meu irmão brigando em plena escola dominical) da Primeira Igreja Batista de Patrocínio. Eu era um adolescente, e na sala onde a palavra era ministrada a nós, dentre muitas boas coisas que aprendemos, hoje vejo que existia um erro pintado em letras garrafais na parede. Dizia: “Nem os melhores, nem os piores, mas diferentes.” Essa frase pode fazer sentido em alguns contextos. Vou citar alguns. Alguém já te perguntou se você prefere uma série no lugar da outra, e você não soube responder, pois uma é de drama, a outra é de ação? Ou alguém já tentou comparar um atacante a um lateral, e você disse: “Pô, mas são posições diferentes.”? Então, estamos tratando de coisas diferentes, e a resposta da parede da escola dominical poderia responder a estas perguntas. Mas quando se trata de comportamento, de moralidade, de conduta, não estamos mais falando de coisas diferentes. De pessoas diferentes, mas a diferença, quando tratada do mesmo assunto, ou é pra melhor, ou pra pior, pois o objeto é o mesmo, é comum.
   Observe o texto:
Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. (Mateus 5:20)
   Os fariseus davam esmolas extravagantes, oravam nas praças, e eram tidos como homens de Deus (alguns acabaram sendo). Eram tidos como justos, e até recebiam títulos por isso. Mas o texto supracitado foi falado por Jesus, no contexto em que ele endossa o Antigo Testamento, e o cumprimento dos mandamentos.
   Caso não tenha ficado claro pra você até agora, se você fosse até Jesus e comentasse sobre essa doutrina que você sabiamente compreendeu nas escrituras, dizendo: “Eu entendi, Mestre. Não sou nem melhor, nem pior que essas pessoas que estão por aí, perdidas sem te conhecer.”, imagino que Jesus gentilmente diria: “Tem certeza de que me conhece?”
   Aquele que conhece Jesus, e é transformado pelo poder do evangelho, se torna uma pessoa boa, melhor, moralmente falando. Não estamos falando de melhor jogador de futebol. Mas como Jesus tratou de mandamentos, estamos falando de moralidade. O pior dentre os cristãos é melhor que o mundo inteiro em caridade.
   Agora é a hora em que você pensa: “Peraí, mas e o tanto de pessoas boas que eu conheço, que nem se quer tem vida com Deus? Alguns até são ateus.”. E é exatamente nessa hora que peço que leia o famoso texto: Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
(1 Coríntios 13:1-3)
. E agora eu quero te falar uma coisa. Amor verdadeiro, altruísta, aquele que quer dar sem receber nada em troca, a não ser, talvez, a satisfação do próximo, do alvo das atitudes, só tem quem é Cristão. Alguns fazem o bem para desencargo de consciência, para diminuir o tempo no purgatório, para reencarnar numa vida melhor, para ir pro céu, mas o cristão convertido é impelido a fazer por amor. Nem sempre isso acontece. Mas acontece com, e somente com o cristão.
  
Considerações finais

   Se você já se converteu e fala essa bobeira, para, cara! Ou você não consegue ver o que o evangelho fez por você? O evangelho te melhorou e ainda vai te melhorar (Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo - Filipenses 1:6).
    Se você viajou ao ler esse texto e pensa: “de fato, eu sou igual aos que estão lá fora, e isso não fez sentido pra mim, mesmo eu estando na igreja e acreditando em Deus”, quero te dizer que não conhece, de fato, Deus. E conhecê-lo é a melhor opção para sentir-se feliz, pois Deus te tornará, a medida que for vivendo com ele, uma pessoa eticamente melhor. Você vai poder dizer por si mesmo: “que absurdo. Sou bem melhor dos que estão lá fora”
  
E a humildade?

   Como observação final, provavelmente você deve ter pensado: “Mas que afirmação mais arrogante, sem humildade.” Mas quero te dizer que isso não é verdade. Nós, cristãos, somos moralmente melhores sim, que os que não vivem em Cristo. Mas somos por méritos de Cristo, pois Ele mesmo age em nós, nos transformando, pelo poder de Deus, em pessoas parecidas com Ele. E Ele, certamente, enquanto homem, foi o melhor que já existiu.

Soli Deo Gloria